sábado, 9 de outubro de 2010

O ESTADO REAL DA (CIDADE DA PRAIA) NAÇÃO CABOVERDIANA

FOTOS: NATANIEL, ALISSANDRA R.R. SEMEDO IMAGENS











O ESTADO REAL DA (CIDADE DA PRAIA) NAÇÃO CABOVERDIANA

ENTRE OUTROS, TAMBÉM O FLAGELO DE UMA MISTERIOSA(?)VIROSE

NATANIEL SEMEDO D SILVA
Bauru, São Paulo- Brasil, 09 de Outubro de 2010

"Notícia é o que alguém, em algum lugar, está tentando suprimir. O resto é só propaganda."



Depois de quatro anos no Brasil, regressei-me á terra querida para checar de perto um desenvolvimento que vem sendo propagandeado, propalado e embandeirado com demasiada basofaria, diga-se em abono da verdade, aos quatro ventos. Cheguei com a minha família, minha esposa brasileira de São Paulo e minha filha de dois anos. Depois de uma longa viagem, num total de quase oito horas, ao aproximarmos do Aeroporto Internacional da Cidade da Praia, de lá de cima, espreitando através das janelas do aparelho da nossa transportadora aérea T.A.C.V. minha alma gelou ao vislumbrar o cenário melancólico de um castanho agreste salpicado ali e além por algumas pouquíssimas manchitas verdes a estender-se no horizonte da paisagem citadina. O avião aterrou finalmente na pista, enquanto meu coração, envolto pela indescritível emoção de voltar á terra, batia mais forte. Chegamos carregados de sonhos e esperança. Na bagagem, literalmente trazíamos num Pen Driver, nosso Projeto Cabo Verde Uma Nova Visão, uma proposta multivalências que pretendia implementar algumas inovações, particularmente na abordagem em termos de desenvolvimento sócio-comunitário.Foi enorme o impacto que a Cidade da Praia causou em nós.A urbe apresentava-se apinhadíssima de construções inacabadas, e de gente de todas as latitudes.Adultos, jovens e crianças defecavam, mijavam e tomavam banho numpriti (que eu vi!) na via pública.Montes de lixo e água estagnada espalhavam-se um pouco por todo lado.Pouco tempo depois começou a época das chuvas, com o fantasma da dengue bem presente.Enquanto isso, eu orava e pedia a Deus que nos livrasse de todo tipo de mazelas.Chovia intermitente e logo de seguida aparecia um sol abrasador, do fim do mundo.Na nossa capital pude visitar e fotografar muito os bairros periféricos da Várzea, Moinhos, Vila Nova, Achadinha Acima, Tira Chapéu, Eugénio Lima, Calabaceira, Bela Vista, Fundo Kobon...e sinceramente o que eu vi e senti foi miséria e desolação.A mítica Várzea da Companhia continuava boiando num mar perigoso de lixo, água fétida estagnada, tráfico e consumo de drogas.Eugénio Lima por seu lado berrava resignado por socorro, num oceano incaracterístico de tristeza e abandono.Observando á distância Lém Cachorro e também Casa Lata meu coração simplesmente dilacerou-se.As células dos ditos Thugs com epicentro nas brechas maltratadas e profundamente stressadas da cidade operavam em alta, sitiando e amedrontando a Praia Maria.Em meio a tudo isso, e como se já não fosse tanto, uma estranha (?) virose começou também a atacar.Minha filha de dois anos foi acometida pela mesma, pelo menos por duas vezes.Eu mesmo, pelos sintomas, teria sido afetado em mais do que uma ocasião.O Hospital Central da Praia arrebentava pelas costuras na tentativa de atender a tantos casos diários.Lá pelos lados da Cidadela, Prainha, certo Palmarejo, Zona do Prédio e Meio de Achada de Santo António algumas bolsas de desenvolvimento e riqueza criando uma “Outra Praia” dentro da Praia Maria, contrastavam de maneira arrepiante e revoltante com Lém Cachorro, Fundo Kobon e alguns “Altos da cidade” como Achada Grande, Ladeira Sampadjudu, Achadinha Pires, Achada Mato e Ponta d’Água. Ouvindo algumas estórias, uma jovem portuguesa que tinha vindo passar férias na Cidade da Praia contou-me que o bairro onde ela estava se residindo cheirava nauseabundo e a água que chegava pelas torneiras era suja e imprópria para o consumo.Vi ainda, estrategicamente colocados, um pouco por toda a parte, inúmeros outdoors fazendo propaganda de quase tudo, enquanto comércios de toda a espécie, espalhados pela cidade, e muito cimento e betume evidenciava sinais de que existe “dinheiro gordo” a movimentar-se em Cabo Verde. E há concerteza, mas para a populacho existe, sim, falta de comida, electricidade, água decente e cuidados de saúde.Acreditem se quiserem; percebi ainda, escassez de liderança séria a todos os níveis e também déficit de boa governação.Cimento e betume a saltarem á vista me impressionaram muito, mas a desolação nas periferias da cidade também me impactou de forma inexorável e imensurável. Pelo meio ainda a tal estranha (?) virose, que diante da omissão de um engajamento sério e comprometido por parte das chamadas forças vivas da nossa sociedade feria ainda mais a alma do povo, que de sobra, tem que lidar com a afronta dos ditos thugs, produto do desenvolvimento manco deste nosso país real onde “casas” surgem da noite para o dia nas encostas e caminhos de água pluvial em Bela Vista, Fundo Kobon ou Várzea Riba. Isto, e outras estórias que contarei depois são realidades que meus olhos viram e minha alma sentiu durante cinco meses de uma curta estadia no nosso país. Em jeito de despedida de Cabo Verde, a convite da senhora Marlene Barros, presidente da Associação "Alcides Barros" para Defesa e Promoção dos Direitos Humanos participei de uma atividade social no surrealista bairro de Fundo Kobon “plantado” na meio di rubera.Então, completamente fora dos meus planos, mas porque Deus assim determinou voltei com a minha família ao amado Brasil, que também é meu país, de onde escrevo este artigo. Para cá, trouxe na retina o que está sendo atualmente o Estado Real da Nossa Nação (da nossa capital caboverdiana): Pequenas bolsas de desenvolvimento e riqueza contrastando com grandes manchas de miséria e desolação mais o flagelo de uma misteriosa (?) virose e o efervescente fenómeno dos Thugs, di kompustura. Dá que pensar, sim!Sonho com muito mais e melhor Cabo Verde, e sei que também tenho que trabalhar pro-ativamente com os demais compatriotas nas ilhas e na nossa diáspora para a realização deste sonho!
Então sonhemos e trabalhemos juntos.

Até breve!

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