quinta-feira, 21 de junho de 2012

O QUE DIRIA TALVEZ UM JOVEM 'THUG' CABO-VERDIANO!



Thugs need hugs - Thugs precisam de abraços!

O QUE DIRIA TALVEZ UM JOVEM ‘THUG’ CABO - VERDIANO!


Eis aqui um instantâneo imaginário do que um jovem ‘thug’ cabo-verdiano (chamemos-lhe Jay C. Matxikadu) possivelmente diria em uma entrevista tendo em conta o atual contexto conturbado da nossa sociedade (e em particular da nossa juventude).

Por Nataniel Semedo da Silva

N - Tudo bem jovem? ‘Campeon’?

JCM - Ops (Stop)!Começa aí o vosso erro!Em vez de me perguntares se já comi hoje, com um hipócrita toque no ombro me “ofereces” um “tudo bem?”

N - Peço desculpas, por isto!Mas e então, já comestes alguma coisa hoje?

JCM - Devo dizer-te que esta pergunta vai ficar sem resposta, visto que isto não é o que realmente te preocupa. A vontade que tenho é de terminar por aqui esta entrevista. Saiba que posso terminá-la a qualquer momento caso não houver sabedoria da tua parte. Right (certo)? Hoje em particular estou pissed (‘xatiadu si’).

N - Tudo bem... vou fazer o meu melhor, podes crer!

JCM - Combinado, então?

N - Combinado. Podemos continuar?

JCM - Yah dude!(sim rapaz)!

N - Primeiramente e em poucas palavras, quem é Jay C Matxikadu?

JCM - Eu cresci sem saber quem era o meu pai. Ele viajou para a Europa quando a minha mãe se engravidou dele. Ele nunca mais voltou acabando por morrer ali. Foi um parente distante quem ‘criou-me’. Esta pessoa me maltratava muito e ainda cheguei a passar fome!

N - Fostes vítima, portanto, de abandono e violência!

JCM - Yah... desde criança!Na adolescência eu era marginalizado na turma por uma professora de inglês que era casada com um militar e pelas meninas ‘copinho de leite’ filhas de ‘brancos’. Eu era uma espécie de “patinho feio”, por isso também sofri muito com aquilo que se chama bullying (‘txakota’) em inglês. Aos dezassete anos uma tia que vivia no estrangeiro ‘mandou buscar-me’. Com vinte e cinco anos de idade, por causa de envolvimento com drugs (drogas) (não matei ninguém!) fui retornado para Cabo Verde. Confesso que prefiro estar na cadeia lá naquele país estrangeiro do que surviving (vegetando) por aqui nestas ilhas. Shit(P***)!

N - Falando em violência, consideras a sociedade cabo-verdiana violenta, ou que os cabo-verdianos são violentos?


JCM - Hey man, nem uma coisa nem outra. Violentos são os políticos da praça... violenta é a Eletra, violentos são as autoridades.Hoje, na sociedade cabo-verdiana a violência é apenas uma conseqüência do desenvolvimento ‘mancu’ e ‘cololu’ deste que eu considero ainda um projeto de nação.Eu mesmo sou um produto explosivo com alta voltagem, um ‘Cocktel Molotov’ e um perigoso sniper (atirador) que fabrica e se diverte com um ‘bóka bedju crioulo’.Shit(P**** )!

N - Cabo Verde não é então uma “Nação Vencedora” como diz o governo!?

JCM - Bullshit (tretas)!

N -Tu assumes mesmo como um ‘thug’?

JCM - Wow ‘sócio’, assumir é favor!Isto é mais do que ser militante. É um estado de espírito e estilo de vida, ‘bu sta ódja’?Nós somos os gafanhotos do deserto, os devoradores da papoila amarga da estiagem. Pensamos com o estômago , bebemos em seco do gargalo do garrafão e ‘korkotimos’ a ‘kokorota básica’!

N - Na Cidade da Praia, em particular há muita rivalidade entre grupos de ‘thugs’. Porque se matam entre si?

JCM - Na televisão aparecem muitas pessoas ‘armadas’ em inteligentes tentando explicar isto, entretanto ‘kuzas é txeu’. Este debate tem que continuar e tem que ser sério!

N - Falas com muita clarividência!

JCM - Se isto que me dizes não for uma bajulação eu aceito. Vocês acham que são do “bem” e nós do “mal”. Fazem muita propaganda das nossas acções. Isto também subiu-nos á cabeça e no brio, por isso, somos atualmente os maiores atores no teatro da sociedade cabo-verdiana e sua democracia bárbara. Somos uns stingers (aqueles que golpeiam e ferem) ferozes e mortíferos. Acham que somos todos burros e selvagens, pessoas sem escola... e hoje nós “fazemos escola”.Eu, por exemplo, leio muito.Sou autodidata.Se quiseres saber, já li “A Arte da Guerra”, “A Fundação” e também Maquiavel e Stalin para poder entender as atitudes dos sucessivos desgovernos deste país.Ah também sei falar inglês. Do you know (sabes)?Sou um ser galáctico, um alien (alienígena), um crime partner (parceiro do crime). Right (certo)?

N - Que dizes dos últimos acontecimentos em Vila Nova na Cidade da Praia onde se falou muito da acção dos thugs?

JCM - O que aconteceu em Vila Nova é apenas um exemplo do que pode vir a alastrar pela cidade caso continuarem a nos subestimar. Somos capazes de uma “Prainha radioativa” ou de uma “Cidadela side efect” bem sujinha caso não se ponham a pau (risos)! Vossa sorte é que as células ‘thugs’ são desunidas agindo a regabofe sem um comando central like (semelhante ao) PCC brasileiro.

N - A vossa revolta também pode ser vista como uma profunda frustração e pessimismo com relação ao futuro imediato?

JCM - Afirmativo!Cansamos de tudo (suspiros), sabes?Somos o início (talvez até um pouco tardio) de uma nova espécie made in cape verde. Sentimo-nos estrangeiros na nossa pátria. A sitiada Cidade da Praia, com a excepção de algumas “bolsas de riqueza” é uma gigantesca shanty town (favela) e esta a transformar-se num tabuleiro de barganha suja no Atlântico. Eu e os outros ‘thugs’ somos transformers (‘mutantes’) que timidamente atuavam nas brechas como pequenos seres sub-reptícios e hoje campeamos como monstros sem controle!

N - Há uma solução, pois não!?

JCM - O que é solução?Vocês cortam-nos a catxupa e o sonho!A idéia de solução tornou-se confusa como é, também, introduzir uma pergunta com “o quê...” aos israelitas ou palestinianos. Entendes?Estamos numa encruzilhada, pois andam a tramar o nosso país. Dizem que somos uma das causas do mal estar, mas eu diria que somos o efeito!Afinal não sou um dummy (estúpido!) como alguns podem pensar. Outra. Não somos verdadeiramente africanos muito menos somos europeus. Este é outro drama. Nós somos atlânticos!Certas organizações religiosas poderiam desempenhar outro papel, mas elas estão dormindo assistindo ao pesadelo. Muitas delas se tornaram em organizações corporativas deixando de causar um impacto positivo. Muitos dos seus líderes simplesmente perderam a visão como os cavalos que trabalham nas minas escuras. Os laços de família somem na bruma seca enquanto o materialismo e o individualismo reinam campeões!

N -Vocês estão desafiando as instituições do Estado tentando colocar a nu as suas fragilidades?

JCM - Do vosso lado do “bem” a incompetência e a imoralidade reinam. Há um enorme vazio de poder e liderança. Daqui a nada seremos o Poder e o vosso “estado de direito” (?) o poder paralelo (no máximo)!

N - Poderias citar, ao menos, dois ou três exemplos de referência?Pessoas com poder de influência na nossa sociedade que poderiam servir de modelo e serem agentes de mudança?

JCM - Se quiseres mesmo saber, não vejo ninguém, por incrível que pareça. Hoje em Cabo Verde existem grandes esquemas e sistemas, grandes mafiosos, corporativismo político, nepotismo, agências políticas de emprego, ‘caçus bódi’ por parte das autoridades ao povo simples’. Como te disse eu leio e estudo. Sei muito bem o que estou te dizendo, ok?

N - Para finalizar, e se me permites, façamos um exercício. Eu cito uma letra e me dizes o que te vem á mente, certo?

JCM - Let’s go (vamos)!

N - Letra A...

JCM - Al Qaeda.

N - Letra B...

JCM - Barbidjaca (risos).

N - Letra C...

JCM - Cutumbembém (gargalhadas)!

N - Muito obrigado!

JCM - No thanks (não tem de quê)!


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