Fabrício Carpinejar jornalista e poeta, autor de “Terceira Sede” e
“Um Terno de Pássaros ao Sul”
ENSEADA DA CIDADE DO MINDELO, ILHA DE SÃO VICENTE, CABO VERDE
As caravelas trouxeram-te pra cá.
Depois seguiste viagem…
Brasil, Antilhas, Cuba, Jamaica, Bahamas e mais e mais.
Nas enseadas da Ribeira Grande e Praia Maria, navios.
Chegaram as naus para uma proto-global negócios.
Em grande conluio fizeram-se sócios.
Ah minha civilização caboverdiana!
Do grande José, do Zezinho, da Lisa, da Aracy e da Mamazinha.
Do gigante Santiago, ilha berço de todos nós.
Paralelo vinte e três, civilização tropical.
Também entendo porque sou afro-brasuca.
Ouvi dizer que até as nossas vacas foram pastar à Baia de São Salvador.
Da terra do pau-brasil também vieram encomendas.
Milho e mandioca pra cachupada à D.Nhánha.
Pra lá levaram o bom José africano.
(…) Dramas e traumas no meu país.
Mas é preciso acreditar,
Sim é preciso acreditar que vamos vencer.
(…) É, nossos olhos voltaram pra «terra longe».
Á Lusitânia fomos preencher a debandada para a Europa abastada.
Nas baleeiras fomos na rota de Colombo.
Também fomos pras tulipas holandesas.
Mas é preciso acreditar que vamos vencer.
Valha-nos Deus… Mas é preciso perdoar.
(ABRIL de 2003)
FAROL MARIA PIA NA ENSEADA DA CIDADE DA PRAIA, ILHA DE SANTIAGO, CABO VERDE
É PRECISO ACREDITAR (III)
Sim, os nossos olhos voltaram pra "terra longe".
Cetáceos de cá da terra foram conosco.
Labutamos
Trabalhamos
E lá se fez uma grande diáspora crioula.
(…) Vamos acreditar.
Sim é preciso acreditar que podemos vencer.
Na aventura até mesmo corremos atrás do ouro.
Até mesmo nos comboios do pacífico.
Também a bordo nos países baixos.
Na guerra dos outros, meu jovem ilhéu chegou à Guiné-Bissau.
E meu povo espalhou-se pelo mundo.
Vamos acreditar.
Sim, é preciso acreditar… que vamos vencer.
Houve uma vaga em Lisboa,
Lá se foi nosso Zé – pedreiro pra construção civil.
Houve uma chance em Roma,
Lá se foi nossa Mamazinha terra-terra cuidar da italianazinha.
E assim meu povo foi pra o outro lado do mar.
Vamos acreditar que vamos vencer,
Que vamos vencer, valha-nos Deus.
Por um decreto, um navio rumou a Sul.
E lá se foi a nossa gente outra vez.
Lá se foi meu povo serviçal pras roças de São Tomé
«Demos o nome» ao contratador mor… Mas vamos perdoar.
«Santamos a praça» em desespero de causa… Mas vamos perdoar.
E assim meu povo foi pro exílio.
Um «pé-de-meia roto» foi a paga…
Mas precisamos perdoar.
(…) É preciso acreditar...
Sim é preciso acreditar que vamos vencer!
Valha-nos Deus!
(ABRIL DE 2003)
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