sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

POEMAS DA MINHA AUTORIA SOBRE A ÁFRICA - "EU TENHO UM SONHO : A VEZ DA AFRICA"

“Ir para cima não é fácil. Desafia a gravidade, tanto cultural quanto magnética”.
Mike Abrashoff

“Pessoas agora esquecidas descobriram, enquanto outros eram ainda bárbaros, os elementos das artes e da ciência.Uma raça de homens agora rejeitada pela sociedade por sua pele escura e seu cabelo enroscado cimentou no estudo das leis da natureza esses sistemas civis e religiosos que ainda governam o universo”.
Count C. Volney, o renomado historiador francês, escrevendo sobre as invenções e as descobertas africanas.


HISTÓRIA E ESTÓRIAS

Daqui de Cabo-Verde «via» o mundo geral.
As esculturas de Makonde e os Ágoras de Atenas.
A Acrópole, o Areópago, Plínio o Velho...
Suspirei fundo no ajuntar das peças do puzzle,
estórias da História que o tempo não apagou.

Daqui do meu país «observava» a «aldeia global».
Discursos dúbios que se dizem oficiais.
Tentava decifrar o que a História dizia.
História e estórias da Abissínia.
Da Pérsia e da Babilônia, de Nabucodonosor…
História e estórias da Grécia, de Roma, de Cartago…
Do que penso saber, do que não sei e da Meta-História.

No refiltrar da História, as pirâmides e esfinges do Egipto.
(…) Viajara no tempo e «viera» Heródoto.
Suspirei fundo no decifrar dos enigmas.
Queria saber da Núbia e do rei Ori,
do império etíope e da África toda.

Na biblioteca global uma chuva de vocábulos:
Ortodoxia e cânon, espúrio e anátema...
Suspirei novamente: Vieram Kebra Nagast,
os Vedas e a Bíblia na versão de King James.
Depois um montão de flashes:
Addis Ababa e o judeu etíope,
Jerusalém e o judeu de Malta,
Islão, Sião, Arábia, Colômbia.
Burro-lança míssil, cavalo-bomba,
Golfinho militar, rato-bombeiro… suspiros!
A Casa banqueira dos Fugger na Áustria
e os lucros de até mil por cento.
Vieram uma proto-globalização, Goré, Ribeira Grande…

Nos baús da História estórias guardadas a sete chaves.
Verdades escondidas em jazigos de lata.
Veio novamente Heródoto e o passado em força:
Mesopotâmia, Tigre, Eufrates, Pisom e Gihom.
Noé, Sem, Cam e Jafet; Ninrod.
A dinastia Aksumita e a tribo dos Agasios.
Suspirei novamente e cheguei ao presente.
Já pensava no noticiário da noite.
Já pensava nos «areopagitas do discurso oficial».

Ah se eu pudesse contar para todos a verdadeira História...
Falava de Jabal, o pai dos que habitam em tendas e tem gado.
Falava de Jubal, o pai de todos os que tocam harpa e flauta.
Falava de Tubalcaim, artífice de toda perícia metalúrgica.
Falava do governador Zafenate-Panéia e da sua senhora Azenate.
Contava estórias do Egipto, do Zimbábue e da África toda.
Qual pastor beduíno procurava papiros em vasos de cerâmica.
E corria a traz dos pergaminhos que os branqueadores da História levaram.
Abria os livros, abria os véus, os baús e os jazigos.
Seria então o mugir do touro daqui de Cabo Verde, do meio do Atlântico.
Seria também a brisa dourada na madrugada da África e de todo o mundo.


PRADO E FILÃO AFRICA

Queimadores do mundo em jogo de batota.
Traços virtuais no demarcar das fronteiras.
Indústria espacial com minério da terra da zebra.
Ribeira Grande, Goré, Sweto... O africano pujante.

Prado-filão África da lauta engorda.
Contos de caça glorificando o caçador.
Mas o leão africano fará história.
Predadores insaciáveis cessarão a fara.

Os mercadores pelos Ágoras levaram nosso José.
Os manos desavindos fazendo a guerra dos outros.
Abram alas pra zebra passar fugindo ao predador.
Gazuas da África pra abrir os ferrolhos da História.

Prado e filão África da cobiça global.
Namoro vampiro que não é Realpolitik.
African Renaissance trazendo de volta o esplendor.
Egipto, Núbia, Etiópia, Cartago... África a sorrir.

ZEBRA
Um tributo à África/Novembro de 2003
*A Zebra neste poema é a própria África

Corre Zebra, corre que há fogo cruzado e balas perdidas.
Corre Zebra pujante que há muitas minas escondidas.
Corre sem parar e leva contigo a África do Sul e o Sudão.
Correra sem parar desde Timbuktu fugindo aos predadores.

Vai Zebra, vai que há para ti um lugar no prado.
Vai Zebra de pelagem ás riscas a galope de brado.
Vai sem parar e leva contigo a Etiópia e a Eritreia.
Viera riscando a selva com uma bandeira de xadrez.

Corre menino de Elmina, corre e chega à escola.
Corre menino da Várzea, corre e leva a tua sacola.
Corre sem parar desde Djibouti no lado oriental.
Correra sem parar trazendo mensagens de Zanzibar.

Zarpou a Zebra vencendo Kalashnicovs e toda argola.
Zarpou a Zebra levando na vontade toda Angola.
Zarpou a Zebra levando uma bandeira verde.
Zarpara levando na alegria todo Cabo Verde.

Vai menino de Aksum, vai que há para ti um lugar ao Sol.
Vai mulher do Sul, vai que Calaari e Kilimanjaro são seus.
Vai sem parar oh filho do belo “José” tecelão e sáfaro.
Viera a Zebra trazendo ás costas todo Zimbábue.

A Zebra percorreu o Ghana com toda gana vindo da Núbia.
Chegara do Madagascar e chegou à Mauritânia seguindo pra Líbia.
E a Zebra zarpou do Kênia com as bênçãos do grande Jabal.
Zarpou e chegou à Guiné-Bissau acenando Comores do outro lado.
Zarpara veloz do Rwanda vencendo mil colinas de neve vermelha.

Corre Zebra, corre portentoso desde o Cabo da Boa Esperança.
Corre Zebra, corre vigoroso e leva contigo toda a Argélia.
Corre levando contigo a bandeira verde da esperança.
Corre levando contigo a Namíbia e chega à Tunísia.
Correra de Serengeti provocando ilusão de óptica nas hienas.

A Zebra correra todo o Sahara... e tinha vindo do Lago Vitória.
Correu e chegou à Somália fugindo a estranhos “Ninrodes”.
A Zebra zarpara da Suazilândia, Seichelles, Maurícias e Reunião.
Zarpou e chegou ao Egipto do ex governador Zafenate-Paneia.
A Zebra correra ouvindo canhões ferozes e doces músicas de banza.

Correu, saltou, cortou a meta e parou pra rever o prado e a Casa.
A Zebra parou e viu ouro; zebrou e na real unidade celebrou.
A Zebra parou e viu diamante; ziguezagueou e na vitória jubilou.
A Zebra parou e viu petróleo; rodopiou e em danças se encantou.
A Zebra da alegria chamou o mundo todo pra festa de arromba.

(...) Sonhei que na Casa da Zebra calaram-se os trovões da guerra.
Na Casa da Zebra onde se desencontraram os rios da concórdia.
Na Casa da Zebra onde se ergueram os ídolos da discórdia.
No prado da Zebra onde do bolso africano tanto roubaram.
No prado da Zebra onde os manos na ira se desentenderam.

(...) Sonhei que na Casa da Zebra todos celebravam a paz.
E a mamã África acordou, renasceu e abraçou o globo.
E a mamã África já não trazia as manchas vermelhas.
As cores da África eram o branco da paz e o azul do perdão.
A grande Zebra surprendeu e renasceu com ela toda a África.

RENASCIMENTO AFRICANO I

Ouvem-se o rufar dos tambores nos alvores de um dia novo.
Orvalhos de alegria e de júbilo caindo nos jardins do povo.
Nos palanques das cidades “Discursos do aldeão eloqüente”.
No soprar dos clarins da justiça social e da paz conseqüente.
E nos bancos da escola mais Histórias e estórias para valer.
Papiros Anastasi e Cartas de Amarna todos querendo ler.

Ventos norte de Sirene e de Cartago assobiando na Nova África.
Abraçando solidário as sete colinas de Roma e toda a bela Ática.
Montes Atlas, rio Nilo, Seringueti na aquarela de um Sol fulgente.
E enfim chegará a primavera de candor na longa jornada pungente.
Ventos bons de Sevene e da Núbia soprando no renascer da África.
Nas chancelarias a revisão geral das regras da cartada diplomática.

Dalém dos “Rios da Etiópia” virão brisas de iluminação.
Então quebrar-se-ão as correntes nos gritos da libertação.
Novos arquitetos quererão saber mais sobre o ícone Imotepe.
Acadêmicos da Nova Casa também pesquisarão Ptá-Hotepe.
Os branqueadores da História não ocultarão mais Nefertite.
Ouvir-se-á então uma outra música no anti eco de dinamite.

Alis Babás e os ladrões de tesouros baterão em retirada.
E o Sol do Sahara será muito mais suave na nossa estirada.
Predadores globais do assalto em rede corarão de vergonha.
Bombardeios e a pirataria não porão mais em fuga a cegonha.
Nosso Wanamum voltará do estrangeiro trazendo perfumes.
Cornetas da fraternidade soarão festivas nos píncaros dos cumes.

Das lápides dos túmulos Tasobadarianos decifraremos o enigma.
Pintando dourado a African Renaissance afugentaremos o estigma.
Em caravanas de grande vitória de todos estarão os niggas a cantar.
E então os leões terão finalmente suas lindas estórias para contar.
Porque enfim os contos de caça não glorificarão mais o caçador.
Conluios infernais falirão e com estes o mais ignóbil explorador.

Zarparão em fuga supersônica os inimigos ferozes da Zebra.
E depois do eclipse vigiaremos atentos qualquer manobra.
No renascer da África a humanidade toda será mais jovem.
Na era pós exclusão choverão flores e frutos que comovem.
Ler-se-á as instruções para Merikare nos negócios da mutualidade.
No Renascimento Africano o mundo todo viverá uma Nova Idade.

Bauru, São Paulo; 3 de Junho de 2009

RENASCIMENTO AFRICANO II

Dalém dos “Rios da Etiópia” ouvem-se o mugir do grande touro.
Bradando e querendo saber quem levou da Núbia o nosso ouro.
De Timbuktu a Zanzibar cantam os rouxinóis no anúncio da primavera.
De Ceuta e de Tanger vem vindo fragrâncias de uma outra atmosfera.

Da África profunda os ritmos tamboris uma nova mensagem trazendo.
De Elmina os gritos de um dia novo com ecos na diáspora rebentando.
Filhos bantos, yorubas, dahomeys, bacongos...e as ataduras soltando.
Com o nosso bordão o mar imenso á nossa frente qual Moisés abrindo.

Do além-mar o sonho do renascer vindo dos Kilombos de outras Áfricas.
O vento norte trazendo chuva copiosa a regar os jardins da alma lavada.
A brisa cantando a música de banza na alegria contagiante renovada.

Nas brechas das cidades ouvindo-se os Raps pujantes de uma Nova África.
Nas periferias os poetas populares escrevendo as poesias do renascimento.
Novas estrelas cintilantes emitindo clarões a mil cores no novel firmamento.

Hoje das mulheres da nossa raiz queremos ouvir as canções do renascer.
L.Hill, E. Badou, Q.Latifah, T.Chapman, C.Évora, S.Lubrano, N.Li, P.Gil…
Líricas jamais compositadas de uma Nova África sim queremos ouvir.

Hoje dos homens da nossa matriz queremos ouvir as melodias de um dia novo.
S.Wonder, S.Keita, Y.N’Dour, Khaled, J.Clegg, Z.Marley, G.Semedo...
Cantares nunca cantados antes de uma Nova África sim queremos ouvir.

Bauru São Paulo, 18 de Junho de 2009

RENASCIMENTO AFRICANO III

Na Nova África cairrão por terra as muralhas dos labirintos da trama.
Num novo dia dalém dos “Rios da Etiópia” ex colônia de judeus errantes.
Contaremos estórias do novo esplendor onde nada mais será como antes.
Na África de Ebede-Meleque que salvou o profeta Jeremias do poço de lama.

Na Nova África do renascimento zarparão em retirada mortíferas colunas.
Inspirados no senhor Zafenate-Panéia a boa governação trará muitos louros.
Na real unidade africana os filhos usufruirão os nossos belíssimos tesouros.
Desminaremos estradas militares que rumaram aos hotéis de muitas colinas.

Na África da guarida ao menino Jesus que escapou da fúria de Herodes.
Na África de Simão de Cirene que na exaustão levou de Cristo a cruz.
Na África que marcante e indelevelmente surgiu no Caminho da Luz.
Nas danças do renascer então ouviremos músicas em outros acordes.

Escutem nos sonhos a música da brisa nos alvores de um dia a despertar.
Depois do eclipse um novo Sol brilhando dourado no Prado da Zebra.
Quando mãos e mentes estiverem em ação na realização da nova obra.
Na África que no dia histórico de Pentecostes também se fez representar.

BAURU, 01 DE JULHO DE 2009